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Verona: a cidade italiana que deu vida à história de Romeu e Julieta

Atualizado: 17 de jun. de 2020

A obra de Shakespeare aborda a realidade política, mas o romantismo é a principal característica do lugar


Por: Andressa Schmidt, Bruna Oliveira, Karina Fonseca, Leonardo Previato, Letícia Paiva, Marcos Leodovico, Marina Guedes e Wesley Carvalho


Foto: Comunidade Italiana


Verona é uma cidade do norte da Itália, localizada na região de Vêneto, com pouco mais de 279 mil habitantes na estimativa de 2019 e tem uma área de 206,6 km². O rio principal que cruza a cidade é o Adige e o clima é continental. Já o prato típico da cidade é o Gnocchi, ou como conhecido no Brasil, nhoque; tipo de pasta apreciada em toda a Itália, mas é em Verona que ele ganha maior significado por estar ligado ao carnaval da cidade. Já a arquitetura é da época romana, medieval e renascentista harmoniosamente ligada com o período da Della Scala Família e os palácios do século 19.


A missionária Sara Caneva, que nasceu em Verona e atualmente está exercendo um trabalho voluntário no Brasil, fala um pouco mais da cidade natal onde morou até os 21 anos. “Eu pessoalmente gosto muito da cidade de Verona. É uma cidade de origem romântica, tem muitos lugares históricos e oferece muitas oportunidades turísticas”. Ela conta mais especificamente sobre a região que viveu: “o lugar onde eu morei se chama Valpolicella, famoso pela produção de vinhos. Gosto muito da natureza que enfeita o local e da possibilidade de chegar nas montanhas em algumas horas de carro”.


Principais pontos turísticos da cidade de Verona, na Itália, que também tem relação com a história de Romeu e Julieta


O jornalista Paulo Teixeira visitou Verona em julho de 2019 e conta um pouco da experiência de ter estado no local que inspirou o clássico de Shakespeare. “Fui na casa da Julieta e no túmulo dela. Sei que eles não existiram, mas tem esses monumentos e ainda uma arena do tempo dos romanos que funciona para apresentação de espetáculos”. Ele ficou encantado com a cidade, e até fez uma comparação à Roma, comentando que esta “parecia uma favela perto da beleza de Verona”.


Sara ainda opina sobre a relação da cidade com a história de Romeu e Julieta, expondo a visão de uma pessoa que mora no lugar, e confirma a existência da arena mencionada por Paulo. “A história de Romeu e Julieta é somente uma lenda, e acredito que Verona tem a oferecer muitas coisas mais bonitas para serem visitadas, como a famosa Arena de Verona, o anfiteatro romano conhecido pelas monumentais produções de ópera. A estrutura dele se encontra muito bem conservada até hoje”.


Verona se torna palco para a obra clássica “Romeu e Julieta” (1597), de William Shakespeare, história que reúne o amor e a tragédia em um mesmo enredo. Por um azar do destino, Romeu, filho único da família Montecchio, e Julieta, filha única da família Capuleto, se conhecem durante um baile de máscaras e apaixonam-se perdidamente. Juntos, os jovens vivem um amor proibido pela família de ambos.


Por uma briga que acaba gerando a morte de Teobaldo (primo de Julieta) e Mercúrio (amigo de Romeu), o príncipe de Verona resolve exilar Romeu, deixando Julieta desesperada pela partida do amado e fazendo com que ela peça ajuda do frade que realizou o casamento deles. A ideia do frade é que Julieta tome uma poção que faça com que ela pareça morta. Romeu, ao receber a notícia da suposta morte de sua esposa, compra uma substância para provocar a própria morte.


"É uma história fantástica e lendária, mas se torna real por conta da situação política vivida na época, o que de fato ocorria, uns eram do partido do papa e outros eram do partido do imperador da Alemanha. Aconteceu isso na história que foi naturalmente tornada imortal por um grande poeta”, conta o Frade Sebastião Benito Quaglio, nascido em Verona e que atualmente mora no Brasil.


A Dinastia Tudor teve grande importância no governo da Inglaterra nos séculos XV e XVI. Durante o reinado de Henrique VIII instaurou-se o Absolutismo e o Anglicanismo, transformando-o em um monarca único, divino e centralizador. Na história, Escalus, Príncipe de Verona, é o mediador entre as famílias de Romeu e Julieta, tentando estabelecer a ordem por meio de seu poder. Ele retrata a força política do rei na época Tudor.


Em 1337 começou a Guerra dos Cem Anos por questões políticas que envolviam a sucessão real na França, a disputa pelo comércio em Flandres e a aliança Franco-Escocesa, um conflito medieval que durou aproximadamente 115 anos. Com a vitória dos franceses, aconteceu uma guerra civil envolvendo duas famílias inglesas de maior destaque na época, Lancaster e York. Mais tarde, com a Guerra das Duas Rosas, o número de integrantes da nobreza diminuiu novamente, facilitando dessa maneira a ascensão e o fortalecimento do rei. “Romeu e Julieta” reflete a situação política e social do período.


“Acredito que todo grande escritor busca na realidade, de maneira direta ou indireta, a inspiração para suas criações. Shakespeare foi um grande escritor da história universal da literatura, resultando em sua força poética, que tem impacto por tocar e se confundir com a realidade”, explica o historiólogo Cleiton Muniz. Este clássico da literatura universal vem há séculos seduzindo gerações de leitores apaixonados, que encontram nas páginas escritas pelo inglês William Shakespeare uma das mais belas e trágicas histórias de amor de todos os tempos.


A história é até hoje um dos principais motivos para que os turistas visitem não só a cidade, mas também a Casa de Julieta, localizada na Via Capello 23, chegando a receber cerca de trezentas mil pessoas por ano. “É interessante lembrar que o encontro de Romeu e Julieta não era nessa casa, mas o local era o mesmo onde os dois tinham os seus castelos. Quem morava em Verona era só Julieta, Romeu morava em uma outra cidade mais perto de Vicenza, mas tinha um castelo da família dele que era perto do castelo de Julieta e foi durante um tempo em que ele foi passar as férias nesse castelo que eles se conheceram”, completa Frei Sebastião.


Estabeleceu-se em Verona uma cultura popular que, caso a pessoa visite o local e toque o seio direito da estátua de Julieta, no pátio da Casa de Julieta, ela terá sorte no amor para toda a vida. “Essa ideia está muito forte no inconsciente coletivo. Por milhares de anos, o mundo antigo cultuou a deusa Artemis, que simbolizava fertilidade, abundância e acolhimento. Por essa crença, Julieta também acaba se tornando uma referência nesse quesito”, explica o historiólogo. São muitos frequentadores que deixam a sua marca, se sensibilizam com a história e anseiam por um amor igual ao de Julieta, ou pelo menos que possa chegar perto do que a obra ilustra.


Ainda há aquelas pessoas que escrevem cartas para o “Club di Giulietta”, o qual voluntárias de todo o canto do mundo, conhecidas por “Secretárias de Julieta”, são responsáveis por responderem todo o tipo de mensagem recebida. “Em 2013 fui fazer um curso na Itália e fiquei sabendo do clube, conheci a presidente Giovanna e as demais secretárias”, conta Andreia Caetano, Jacareí-SP, que é designada a responder as cartas em português e está envolvida nesse trabalho desde 2015.


Em relação ao que as pessoas costumam escrever nas correspondências, Andreia conta: “As cartas são sempre um desabafo. Uma procura por uma amiga confidente e leal, são cartas sobre amores, desilusões e muita solidão”. Ela ainda conta que é a única no Brasil como voluntária. “Tem a Gisele, que se casou com um italiano e hoje mora em Verona, que também responde em português”.


Andreia Caetano mostra as cartas que recebe do Club di Giuletta para responder, em português. Foto: Andreia Caetano


Uma das histórias que deixou Andreia mais emocionada foi a de uma mãe que pedia ajuda para resgatar os filhos que o pai tinha levado embora. “Respondi, acalmando o coração dela com palavras carinhosas e aconselhando a procurar um advogado ou a polícia. Às vezes, as pessoas estão tão perdidas que não conseguem perceber o óbvio e as secretárias estão sempre prontas para ajudar. Um pouquinho de atenção e amor pode ser o sopro de esperança na vida de alguém”.


A professora de literatura inglesa Hallynson Spinelli acredita que as cartas se tornam um vínculo entre quem escreve e quem as lê. “A princípio eram enviadas como uma forma de se consolarem e desabafarem, mas acabam explorando o potencial turístico que a obra poderia trazer devido a curiosidade de seus admiradores”. Ela ainda complementa: “Romeu e Julieta é uma história em atos, composta por diversas cenas; se desenvolve em meio a conflitos e o amor verdadeiro, sendo tema e estilo comuns para época em que foi escrita”.


Verona, conhecida como “La Piccola Roma”, foi incorporada ao Reino de Itália, em 1866, com a Terceira Guerra de Independência Italiana. A cidade foi declarada como patrimônio da humanidade pela UNESCO por conta da estrutura urbana e arquitetura. A título de curiosidade, William Shakespeare nunca esteve presente na Itália, mesmo que a obra tenha recebido influência da história do município italiano.


O escritor fez uma grande escolha ao encaixar a região italiana em sua história. Considerada como a “cidade do amor”, o local acolheu de braços abertos um cenário ilustrativo para os personagens fictícios que, na realidade, mesmo após séculos da obra ter sido lançada, continua encantando o mundo inteiro.

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