Desde o dia 11 de abril, o país soma o maior número de óbitos da doença no mundo; só no primeiro semestre foram cerca de 107 mil óbitos.
Por Leonardo Cunha, Mateus Bertole, Miguel Rocha, Pedro La Ferreira, Ulysses Issamu e Vinícius de Oliveira
Imagem: Pixabay
Desde a primeira metade de abril, os Estados Unidos se tornou o epicentro do novo coronavírus. Segundo especialistas em saúde pública, epidemiologistas e analistas, três fatores levaram os EUA a esta grave situação: a lentidão da resposta da Casa Branca e não liderança frente à pandemia, a falta de coordenação dos estados e o sistema de saúde (baseado quase totalmente em planos de saúde privados), o que eleva os custos e complicam o combate à COVID-19. O país também teve também problemas com testes que tiveram de ser substituídos e o acesso limitado aos exames acaba atrasando medidas de combate a doença.
O epicentro da doença no país é Nova Iorque. Segundo estatísticas do Google, o estado soma mais de 370 mil casos confirmados, e mais de 24 mil mortes até o inicio de junho. Alexia Fernandes, 18 anos, é uma das moradoras do estado. Ela comenta que a rotina dos filhos foi muito afetada pelo isolamento social, porém, aprova as medidas tomadas para tentar frear o avanço da doença. “Na minha cidade o governo está ajudando muito, tomaram várias providências a respeito, como o aumento da quarentena, o cancelamento do ano escolar com aulas presenciais, e ninguém pode sair de casa depois das 8 da noite, até as 5 da manhã”, relata.
Nova Jersey é o segundo estado mais afetado pela doença, e já registra mais de 161 mil casos confirmados de COVID-19, e quase 12 mil mortes. Krista Perry, 28, moradora de Morristown, é uma das muitas pessoas que estão passando pela primeira vez por esse tipo de isolamento. Segundo ela, o período de quarentena não tem sido fácil. “A coisa mais difícil de estar em casa para mim é a sensação de estar "presa" e não conseguir ver meus amigos.Trabalhar em casa também não é fácil. No começo eu estava lidando com isso, mas depois ficou muito difícil comer, trabalhar, me exercitar e dormir.”
Krista também comenta as medidas adotadas pelo governo. “Há cerca de dois meses, nosso governador (Phil Murphy) nos colocou em estado de emergência, fechando o comércio, estabelecendo diretrizes de distanciamento social, além de colocar todos em quarentena. Nossa cidade se tornou uma cidade fantasma.”
Um cenário um pouco diferente acontece no condado de Denver, no estado do Colorado, apresentando 5.173 casos confirmados do novo coronavírus, e 299 mortes. Caitlin Sebern, 30, moradora de Denver, foi demitida do emprego no final de março, atualmente está desempregada, e tendo de sustentar seu bebê, com poucas semanas de vida. “Acabei de ter um bebê no meio de toda essa loucura, por isso ficamos em casa o tempo todo. A maior dificuldade de ficar em casa é tentar não enlouquecer.”
Caitlin, assim como muitas pessoas, sente falta de ver os amigos, ir à restaurantes e passear com o filho, no entanto, afirma que está cumprindo a recomendação do distanciamento social. “Se significa salvar a vida das pessoas, estou bem fazendo isso”, ressalta.
Uma questão levantada é como está sendo a experiência e comportamento dessas pessoas dentro de casa e como estão lidando com o isolamento social. De acordo com a doutora em ciências sociais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Adriana Capuano de Oliveira, além das mortes e das infecções pelo novo coronavírus, a sociedade americana, assim como a brasileira, teve que enfrentar uma mudança de rotina muito severa. Mesmo vendo os acontecimentos em outros continentes. “Por mais que estivéssemos assistindo os acontecimentos na Ásia e Europa, não nos preparamos o suficiente para aquilo que viria. Os maiores danos estão relacionados justamente a situações de violência doméstica e também ao aumento dos casos de depressão ou seu aprofundamento, quando esta já existia”, explica Adriana.
PERCEPÇÃO POLÍTICA
Assim como no Brasil, parte dos norte-americanos reclamam de ações e declarações que minimizam a questão da pandemia por parte do Presidente Donald Trump. De acordo com o Centro de Pesquisas de Assuntos Públicos da Associated Press-NORC, 41% dos americanos aprovam a condução da pandemia por parte do presidente americano, enquanto 58% desaprovam.
No final de abril, durante uma coletiva de imprensa, Trump sugeriu que as pessoas injetassem desinfetante em seus próprios corpos como medida contra a COVID-19. “Eu vi que o desinfetante dá um nocaute (no coronavírus) em um minuto. Um minuto. Talvez seja possível, talvez não seja. Eu não sou médico”, declarou o presidente.
Krista ao ouvir tal depoimento, conta que ficou indignada. “Por causa da declaração dele (Donald Trump), os noticiários tiveram que aparecer na TV e dizer que não é sugerido beber ou comer produtos de limpeza”, diz Krista.
A moradora de Nova Jersey se mantém crítica sobre o posicionamento de Trump e de como ele está lidando com essa crise. “Trump tem sido um líder terrível. Ele só piora as coisas, falando sobre algo que ele não sabe nada a respeito. Ele tem sido sarcástico e não ajuda o povo de seu país, não levou a sério e não é alguém que procuramos orientação.”
Caitlin acredita que o presidente não esteja tomando as melhores decisões frente a pandemia. “Muitas das coisas que Trump disse, colocaram outras pessoas em risco. Não acho que ele esteja lidando bem com a situação e, infelizmente, isso custou a vida de mais pessoas.”
Segundo Adriana de Oliveira, além das medidas de socorro econômico aos mais vulneráveis, é papel do governo estabilizar a sociedade em termos de coesão e confiança no futuro e a orientação correta à população, baseada em critérios científicos de como lidar com esta doença, o que já foi visto em outros países do mundo que obtiveram êxito na luta contra o novo coronavírus. “Ao invés de criar polêmicas e situações de conflito, o governo deveria orientar a população de forma correta e em um único sentido, para que as pessoas pudessem se organizar e unirem-se da melhor forma”, comenta.
Adriana completa dizendo sobre a demora de tomada de atitude para a prevenção da COVID-19 por parte do Presidente dos Estados Unidos. “Trump poderia ter agido antes, ele não foi o único a agir tardiamente. O que mais podemos lamentar a respeito dessa demora em relação ao isolamento, é que os países da América tiveram muito mais tempo do que a Europa para se preparar para o enfrentamento da pandemia, porém, não o fizeram e muitas vidas foram perdidas."
JORNADA PELA VACINA
Pesquisadores do mundo todo estão dia e noite a procura de uma possível vacina contra o novo coronavírus, e as expectativas estão cada vez mais altas, com grandes avanços na procura de um modo de descobrir um tratamento para o vírus.
Duas empresas norte-americanas já estão nessa corrida. De acordo com a agência de notícias Dow Jones, a Merck é uma delas, anunciando que duas vacinas e um medicamento contra a doença já estão em desenvolvimento.
A outra é a Novavax, empresa de biotecnologia, que começará a testar uma vacina em 131 pessoas infectadas na Austrália, em um primeiro momento, analisando a eficácia da vacina em humanos, e possíveis efeitos colaterais.
A renomada Universidade de Oxford na Inglaterra também está focando seus objetivos na produção de uma possível vacina. Em parceria com a empresa farmacêutica AstraZeneca, a universidade já fez o teste da vacina em mil voluntários durante a primeira fase de seu projeto.
Para a segunda fase, a universidade já começou o recrutamento de dez mil pessoas, focando em diferentes faixas etárias: indivíduos acima dos 70 anos, de 59 a 69 anos, e crianças de cinco a 12 anos.
Anteriormente, testes realizados em macacos-rhesus mostraram uma redução nos sintomas, mas não conseguiram curá-los completamente.
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