Um dos serviços que ganharam destaque durante a pandemia foram os de streamings, como a plataforma Netflix.
Arthur Souza, Barbara Barretta, Caroline Ripani, Milton Souza
Foto: Andrew Harrer/ Getty Images
Legenda: Mesmo durante a pandemia do novo coronavírus a Netflix registrou cerca de 15 milhões de novas assinaturas no primeiro trimestre de 2020.
Desde quando o novo coronavírus começou a se espalhar e virou uma pandemia no início de 2020 não se imaginava o impacto que teria mundialmente. Um dos setores que acabou sendo afetado em todo o mundo foi o audiovisual, com produções paradas, filmes adiados ou até mesmo acontecendo o cancelamento de alguns lançamentos.
Um dos serviços que nessa época de isolamento social acaba entrando em evidência foi os streamings, onde uma pessoa paga mensalmente uma taxa para ter acesso a uma biblioteca com diversos materiais audiovisuais de todo o mundo, como filmes, séries, animações e documentários. Alguns exemplos dessas plataformas são a Netflix, o Amazon Prime e o Globoplay.
Em uma estimativa feita ano passado pela Netflix, mas revelada somente em abril deste ano, o serviço de streaming previu um aumento de 7 milhões de assinantes para o primeiro semestre de 2020, com a chegada do coronavírus, o número aumentou. O crescimento foi o dobro do que tinha sido previsto em 2019, com um aumento de 15,77 milhões de assinaturas.
Mas nem tudo está indo bem no segmento, muitos deles tiveram produções paradas e ou de adiar lançamentos. No Brasil, um dos problemas que afeta o público brasileiro é a questão da dublagem, já que a maioria do conteúdo presente nesse tipo de plataforma é estrangeiro e precisaria de um áudio em português para o acesso da maioria da população.
A importância do áudio em português, segundo uma pesquisa feita pela Netflix em 2017 sobre a preferência do seu conteúdo dublado ou legendado. Nas séries autorais do serviço, “13 Reasons Why” e “House of Cards”, enquanto a primeira, que é uma série mais teen, 84% do público vê dublado, já o segundo seriado, que é mais maduro, o público é dividido em 50% para ambos os formatos.
A questão da dublagem nesse âmbito de pandemia e de isolamento social é difícil, já que o setor não é um dos serviços essenciais, os estúdios e dubladores acabaram parando, e com isso diversas produções foram impactadas, com séries indo ao ar sem ter a dublagem completa. Umas das pessoas que foi afetada foi o produtor de dublagem e dublador, Rafael Schubert. Sobre a situação, ele fala que sabia que a Covid-19 impactaria na dublagem, porém não imaginava que a pandemia mudaria o futuro do cenário e das pessoas que trabalham em torno.
Segundo Schubert, ele teve de seis projetos afetados, com quatro deles sendo pausados ou cancelados. Ele, que também faz produção de dublagem para Netflix, conta um pouco do trabalho com a plataforma nessa época. “Essa parte é um pouco complicada, já que o trabalho nunca é direto com ela e sim com atravessadores, então meio que cada um tá resolvendo uma coisa. Por enquanto não tá havendo nenhum tipo de trabalho remoto por conta de sigilo e proteção à pirataria. E não temos retorno de nenhum cliente por sermos todos freelancers.”
Foto: Arquivo Pessoal
Legenda: O dublador e produtor de dublagem, Rafael Schubert, foi um dos profissionais do audiovisual afetados, com 6 projetos interrompidos.
O produtor de dublagem ainda fala um pouco de como será o cenário daqui por diante. “Os dubladores e donos de estúdios têm se reunido para descobrir a melhor forma e unir o trabalho presencial e remoto da melhor forma possível, para que não fiquemos sem trabalhar”. Uma das opções que ele sugere é de fazer a dublagem remotamente, coisa que atualmente não é muito feita e que após a pandemia, esse serviço poderia ser usado com mais frequência.
O mercado audiovisual brasileiro
O professor do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Metodista de São Paulo, Marcio Antonio Kowalski, explicou o histórico do mercado audiovisual brasileiro nos últimos anos “O Brasil passou por uma crescente na virada do século e colhemos os frutos desta crescente até 2019. Tivemos um aumento no número de produções no cinema, na televisão por assinatura e nos canais abertos, principalmente por causa de medidas de incentivo do governo federal”.
Fonte: Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)
Kowalski cita a Lei da TV Paga, lei nº 12485/2011, que torna obrigatória a exibição de 3h30 minutos de conteúdo nacional em canais da TV por assinatura que transmitem filmes, séries, novelas, animações e documentários. “Essa e outras medidas foram responsáveis por estruturar o setor no Brasil”, concluiu. Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), as produções audiovisuais geram lucro de R$ 25 bilhões ao ano para a economia, quase um por cento do PIB nacional.
Foto: Arquivo pessoal
Legenda: Professor de Rádio e TV e Internet, Marcio Antonio Kowalski.
A pandemia de coronavírus tem exposto os problemas que a indústria audiovisual brasileira vem enfrentando nos últimos anos. Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um corte de 43% no orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que iniciou o ano de 2020 com apenas R$ 300 milhões para financiar e incentivar produções nacionais. Durante a crise de Covid-19, a Ancine anunciou linhas de crédito avaliados em R$ 400 milhões para proteger os funcionários do setor, incluindo proprietários de salas de cinemas, e um apoio de R$ 11 milhões para pequenas empresas e produtoras audiovisuais.
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