Com a crise da pandemia e as diferentes atitudes adotadas, os resultados são discrepantes entre os países
O início do coronavírus foi em 11 de março e desde que virou uma pandemia, os países tomaram diversas medidas para combater o vírus como o isolamento social, o lockdown, criação de hospitais de campanha, entre outros. Para a infectologista Rosana Richtmann “o que estamos assistindo varia muito de local para local, de país para país, de povos para povos, de culturas para culturas. No início a gente sabia menos do que a gente sabe hoje”.
A primeira morte causada pela COVID-19 foi anunciada no dia 11 de janeiro na China. Até então conhecido como epidemia, o vírus se espalhou pelas províncias asiáticas e chegou a ultrapassar fronteiras.
Com o intuito de conter a propagação da epidemia, as autoridades chinesas decidiram usar o método de “lockdown” um confinamento radical jamais imaginado pelo Ocidente.
Para a infectologista “a China conseguiu, com pouquíssimos dias de epidemia local, fechar 11 milhões de pessoas dentro de casa, sem sair na rua, ou seja, algo inimaginável em qualquer outro país do mundo”.
O isolamento iniciou dia 25 de janeiro pela cidade de Wuhan e toda a província de Hubei, cerca de 56 milhões de pessoas foram isoladas. A iniciativa chamou atenção e diversos governos começaram a repatriar os cidadãos que residiam em outros países. Ao chegarem em seu país de origem as pessoas eram submetidas a uma quarentena. No final do mês de janeiro, a China tinha quase seis mil casos registrados oficialmente. “Apesar de medidas tão duras como as que eles tiveram, na minha ótica, eles foram no caminho certo, eles conseguiram controlar a epidemia local depois de um mês e meio”, diz a infectologista.
A Coreia do Sul é um dos bons exemplos no aspecto de contenção do novo coronavírus. A receita pode ser resumida em muitos testes, controle de pessoas infectadas e a cooperação da população. Logo no início do ano as autoridade de saúde sul-coreanas solicitaram à empresas do ramo o desenvolvimento de testes para o COVID-19, que em apenas uma semana já estava pronto e fora amplamente distribuído dentro dos centros de atendimento médico. O país tem capacidade de testar até 20 mil pessoas por dia e os resultados saem em até seis horas, uma diferença significativa em relação à outros países, como o Brasil. Outro fator determinante no baixo número de casos da COVID-19 na Coreia do Sul, foi a quarentena voluntária.
Antes mesmo do governo do país publicar alguma medida oficial, diversos estabelecimentos e empresas já haviam fechado as portas. Para Rosana “alguns países se prepararam melhor para a pandemia e tiveram condições econômicas e culturais, assim souberam enfrentar melhor a crise. Então o número de casos nesses países são grandes, mas o número de mortes é bem menor nos países que souberam se prepararam melhor”.
A Etiópia já apresenta dados menos alarmantes em relação a outros países do mundo. Em todo o país foram diagnosticados 655 casos, com cinco mortes confirmadas pelo COVID-19 no final de maio. Logo que os primeiros casos foram diagnosticados, o primeiro ministro declarou estado de emergência no país e começou a ser trabalhado um plano para manter baixo o número de infectados. A Etiópia concentra um número grande de refugiados de países vizinhos, porém, até o final de abril não se tinha casos de COVID entre refugiados.
Outros países obtêm resultados diferentes
A Itália foi um dos principais atingidos com a pandemia do coronavírus. Segundo especialistas, os governantes demoraram para tomar medidas preventivas contra a doença no país. A região com maior número de infectados foi a Lombardia. Assim que os números de infectados aumentou, a Itália começou a mudar suas políticas de contenção, como por exemplo, aderir à quarentena, que já não foi tão efetivo, pois milhares de pessoas já tinham sido infectadas e todos os dias centenas de pessoas morriam.
Sobre isso, a infectologista diz: “A China avisou o mundo do que poderia acontecer dali para frente. Tiveram países que que ouviram, como a Alemanha, e outros que não ouviram, como a Itália, com isso, foram pegos mais despreparados em relação à doença e teve toda a consequência que foi possível perceber.”
Em maio, o país teve queda no número de casos, e o governo italiano considera que o período de isolamento social chegou ao ápice, com isso, começou a se planejar datas para o fim do confinamento e para a reabertura do país. A Itália ainda precisa resolver seus problemas econômicos, assim, de acordo com o poder Executivo do país, a reconstrução terá duas fases: a primeira, freando a crise financeira, já a segunda é reconstruindo a economia.
A Espanha é o país com a maior taxa de mortalidade por coronavírus no mundo, no início do mês de abril eram 28 mortos para cada 100 mil habitantes. As possíveis razões para esse número são muitas, porém o envelhecimento da população e o surto do vírus nas casas de repouso são apontados como os principais fatores. Especialistas da área apontam também a falta de investimento em hospitais públicos por parte do governo espanhol.
Atualmente, o governo espanhol vêm estudando quais serão os próximos passos para converter o avanço da COVID-19. Nathalie de Jesus mora no país há três anos e diz que “o governo promoveu normas para cada cidade e as pessoas tem horários certos para sair às ruas. Com isso foi estipulado três fases, agora estamos na primeira, onde podemos sair uma hora por dia para fazer esportes e andar até um quilômetro.”
Milhões de testes rápidos foram distribuídos pelo governo entre comunidades autônomas, fora o grande investimento em equipamento como respiradores e máscaras, além disso, o governo endureceu as medidas do isolamento social Nathalie comentou que “as medidas tomadas pelas autoridades foram respeitadas, pois foram aplicadas multas estipuladas pelo governo da Espanha, e havia dias que ninguém podia sair para nada, se não estavam sujeitos a pagar uma multa e responder por um crime de delito”.
No Brasil, as primeiras medidas contra o coronavírus foram tomadas antes mesmo da doença se alastrar pelo país e segundo Rosana “nós tivemos tempo para entender o que estava acontecendo e ver quais as melhores formas de planejamento seguir, a adesão da população foi bem adequada, então começamos num ritmo mais achatado.” No início de fevereiro, foi decidido que os brasileiros que estavam em Wuhan, cidade que supostamente deu início a pandemia, seriam trazidos de volta ao país e ficariam sob observação.
O primeiro caso confirmado da doença no país foi de um homem que havia recém chegado Itália e desembarcou em São Paulo. Pouco mais de um mês depois, um outro homem morreu na capital paulista, vítima do vírus. O estado de São Paulo teve um aumento vertiginoso no número de casos e de mortes, tornando-se o epicentro da doença no Brasil, com isso, o governo do estado decretou estado de quarentena para tentar conter estes números.
Contudo, as medidas tomadas pelo governo federal foram criticadas pela sociedade e especialistas, sobretudo a proposta que permitia a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses (esta ocorreu por volta de 22 de março), que depois de críticas foi revogada. No “Diário Oficial da União” foi publicada a lei que cria um auxílio de R$600 por mês, por três meses, para ajudar trabalhadores informais, como forma de conter a crise econômica no país devido à doença.
Os governos estaduais estão tomando diversas providências para conter a doença, o número de casos e o número de mortes. A principal delas foi a quarentena, para evitar que o número de casos aumentem. Foram criados hospitais de campanha, fecharam alas de hospitais para o tratamento exclusivo do coronavírus e houveram diversos tipos de anúncios com indicações de como se prevenir da doença.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, contrariado pelos governos estaduais, demonstrou insatisfação com a quarentena alegando que “a economia do Brasil não pode parar”. Segundo a infectologista “devido a problemas em todas as linhas, seja na econômica, política ou cultura, é muito difícil fazer a população manter todos os protocolos que a ciência solicita, e por isso que estamos presenciando o caos em muitos lugares do país.”
Diversos apoiadores do governo convocaram manifestações nas ruas contra o isolamento social e a favor da reabertura do país, pois segundo eles, com a quarentena o país estaria em perigo econômico, com isso, essa atitude colocou a saúde de diversas pessoas em risco. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em maio, a América do Sul se tornou o epicentro da doença, tendo o Brasil como o ponto mais preocupante, Richtmann comenta que “não tem outra saída se não o distanciamento social por bem, no sentido de cada um ter a sua consciência, se caso não for respeitado a alternativa é o lockdown.”
O Equador teve um aumento significativo de mortos e infectados pelo coronavírus. A situação é crítica e o sistema de saúde do país está passando por um colapso, esse fator está gerando sobrecarga no serviço funerário, a demanda é tanta, que o próprio governo ficou encarregado pela tarefa de enterrar os mortos vítimas da doença, já que os cadáveres ficavam horas ou até mesmo dias jogados nas calçadas.
O país que possui cerca de 17 milhões de habitantes, e registrou o seu primeiro caso no dia 29 de fevereiro. Desde o dia 21 de março foi dado a ordem de “toque de recolher”, onde as pessoas só poderiam sair de casa entre 5h da manhã e 14h da tarde. Já foram registrados aproximadamente 10.398 casos de COVID-19 e 520 mortes. A cidade mais atingida é de Guayaquil, com aproximadamente 70% de todos os casos do país, com 232 mortes.
Entre as medidas tomadas pelo governo equatoriano está o corte de 50% nos salários do presidente, vice-presidente, ministros e demais cargos públicos. Além disso, o governo anunciou a criação de uma conta nacional de assistência humanitária e propôs que ninguém possa ser despejado por atrasar aluguel durante a pandemia e nos 60 dias consecutivos.
Já o governo norte-coreano vêm reafirmando nos últimos tempos à OMS que o país ainda não registrou nenhum caso de coronavírus, porém aparentemente essa não é a real situação do país. Segundo a rádio Free Asia, organização financiada pelo governo dos Estados Unidos, existem casos de COVID-19 no país. A informação teria sido divulgada em palestras, onde organizações e grupos de vigilância de bairro foram informados sobre casos confirmados na cidade de Pyongyang e em outras duas províncias. Como medida de prevenção, Pyongyang já impôs quarentena de 30 dias a estrangeiros de qualquer um dos mais de 150 país que já reportaram à OMS casos da Covid-19. Além disso, o governo norte-coreano expulsou diversos diplomatas no início do mês de março.
A África do Sul possui aproximadamente 57 milhões de habitantes, já confirmou 3.465 casos e 58 mortes. O presidente do país, Cyril Ramaphosa, foi duramente criticado pelo Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul, segundo o Sindicato são ineficazes as medidas tomadas a favor da classe trabalhadora e dos mais pobres. Entre as medidas propostas por Ramaphosa e seu governo, além da quarentena, está um fundo de alívio para as micros, pequenas e médias empresas, que assegura uma redução nos danos da baixa produtividade. No entanto não houve nenhuma menção voltado para simplificar o pagamento de dívidas individuais de pessoas físicas ou de grupos familiares.
Além disso, o Governo sul-africano restringiu viagens, promoveu o fechamentos de escolas e proibiu qualquer tipo de aglomeração com mais de 100 pessoas. A infectologista disse: “eu acho que o desfecho mais importante não é o número de casos, nenhum de nós tem imunidade, então em algum momento a gente vai ter contato com esse vírus, o que a gente não quer é que realmente tenha mortes relacionadas a esse vírus, principalmente, não por não conhecer a doença, mas por falta de estrutura, é isso que a gente não aceita”.
O Irã viveu uma crescente nos casos de coronavírus, que quase se assemelhou a situação da qual a China vivia, ambos os países viviam o pico da epidemia, quase que simultaneamente. Uma das primeiras medidas do governo iraniano foi o fechamento das fronteiras do país, além do reforço ao isolamento social. Segundo dados oficiais, o Irã já conta com aproximadamente 85 mil casos confirmados de COVID-19. Ainda no primeiro semestre, houve desaceleração no número de novos casos, a taxa de recuperação passou a aumentar, chegando a 60 mil. Mesmo quando o ápice da pandemia no país já tinha passado, o governo continuava em alerta para minimizar novos contágios.
Segundo a especialista, é possível perceber que os países que adotaram medidas mais flexíveis tiveram mais problemas, uma vez em que o número de mortos foi maior. No começo da pandemia, a Espanha não lidou com a doença da maneira que deveria, o governo não quis fechar o país para não acabar com a economia, assim como aconteceu no Brasil, mas essa medida não teve efeito e os países entraram em crise do mesmo jeito. “Porém esta medida teve um efeito negativo: o aumento nos casos de COVID-19”.
Produção: Daniel Vila Nova; Luiza Matos; Milena Otta; Yan Campoi e Yuri Sena
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