Atual vitrine de imunização na pandemia, Israel negligencia seus deveres como potência ocupante promovendo limpeza étnica, afirmam especialistas
Por: Bruna Lazari, Arthur Almeida, Bruno Reis, Milena Aparecida, Vinicius Segatto, Lucas Souza, Vitor Hugo, Igor Germano e Matheus Decker
Soldados israelenses sonhando e lutando por uma paz ceifada por terroristas palestinos. Essa é a narrativa construída mundo afora sobre um dos maiores conflitos do Oriente Médio, alimentado ideologicamente pelo sionismo e pelo desafio diplomático, e economicamente por grandes potências mundiais. Contudo, a construção desse discurso em tempos de pandemia facilita um apartheid para com a população palestina, devidamente calculado pelas autoridades israelenses.
Atingindo 56,1% da população totalmente vacinada contra o coronavírus, Israel se tornou modelo diante da maior crise sanitária que muitos países já viveram. Porém, mesmo diante da maior pandemia do século 21, a nação insiste com os ataques aéreos na Faixa de Gaza e impede a vacinação em massa do povo palestino, não só bloqueando a passagem de vacinas pelo território, mas também quebrando a Quarta Convenção de Genebra, ao não fornecer o devido suporte à nação ocupada.
De acordo com o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, “a Quarta Convenção de Genebra, que regula os crimes de guerra por potências ocupantes, determina que é de responsabilidade da potência ocupante os serviços de saúde, chamados sanitários.” Segundo o sociólogo, Israel, como potência ocupante, “é obrigada a proporcionar, especialmente no momento pandêmico, as condições, os insumos ou a própria vacina para a população palestina.” Rabah reforça ainda a importência em considerar o apartheid atual como um despertar da humanidade para os crimes de Israel, não só dos grandes operadores da diplomacia internacional, mas também do cidadão comum.
Os crimes de lesa humanidade já foram reportados pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo Human Rights Watch, órgão que realiza pesquisas sobre os direitos humanos ao redor do mundo. Para o soldado israelense - que prefere não ser identificado -, “ao final do dia, Israel quer paz, e fará de tudo para conseguir isso. Mas eles (Palestina e Hamas) não querem paz. Eles buscam alienação e a destruição de Israel”.
Frente ao questionamento sobre a desigualdade na vacinação, o soldado convoca os Acordos de Paz de Oslo, firmado em 1995 entre Israel e Palestina, que afirma que as autoridade palestinas são responsáveis por imunizações. “A distribuição de vacinas para a Palestina não é um problema de Israel, a distribuição global é decidida pelas empresas farmacêuticas e a autoridade que deseja comprá-las. Então, não é nosso papel ajudar.”
Diante da atual crise social, política e sanitária, tanto a comunidade internacional quanto a ONU afirmam que nesse momento a Quarta Convenção de Genebra se sobrepõe aos Acordos de Oslo, tornando legal a obrigação de Israel.
O MITO DA COLONIZAÇÃO PACÍFICA
Hoje, a Palestina atinge 0,9% da população totalmente vacinada, de acordo com o Our World in Data, contando com o apoio da comunidade internacional, mas enfrenta uma campanha lenta e prejudicial ao povo, que vive uma segunda onda do vírus. Segundo a bióloga Muna Muhammad, especialista em saúde e professora da Universidade de Brasília (UNB), “no caso da Palestina, estar sob poder de Israel sempre significou ter uma expectativa de vida menor, e com o Covid-19 isso se tornou expresso de uma forma muito mais amplificada.”
Embora pressionados por grupos internacionais de direitos humanos e pela ONU, Israel manteve sua posição e forneceu vacinas apenas para os palestinos que trabalham diretamente em Israel. Além disso, em maio, intensificou os ataques aéreos na Faixa de Gaza, deixando cerca de 240 mortos, incluindo 63 crianças, como resposta às ofensivas realizadas pelo grupo de resistência islâmica, Hamas.
A represália israelense não se inicia hoje com a desigualdade na distribuição de vacinas, mas sim em 1947 com a criação do Estado de Israel e a expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas terras. Desde então, o levante palestino luta pelo reconhecimento de um estado independente, livre das amarras do colonialismo e pelo fim da escalada de violência, predominante no palco do conflito, em Jerusalém.
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