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Pânico, medo e preocupação com parentes: como é a vida de brasileiros no exterior durante a pandemia

  • Jornaleiros Sem Fronteiras
  • 3 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 9 de jun. de 2020

O novo coronavírus mudou a realidade de vários países em níveis diferentes.

Desde a China até os Estados Unidos, a rotina foi transformada para se adaptar à doença


Caroline Lopes, Karina Crisanto, Luciana Kim e Luiza Lemos

O planeta está vivendo uma pandemia, o novo coronavírus foi descoberto no final de 2019 e trouxe consequências para o mundo inteiro. Com isso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu orientações de isolamento social e os brasileiros que vivem no exterior precisaram readaptar as rotinas para enfrentar este momento de caos. Mas já pensou em passar por este momento fora do país, longe da família e amigos, com lugares e culturas diferentes?


A bailarina Kauany Sebrian, 23, mora há onze meses em Zhengzhou, província de Henan-China, país que foi o primeiro a registrar casos do vírus - até o final de maio contabilizou cerca de 83 mil casos confirmados e 4.634 mortes - e optou por morar no país por questões financeiras e pela expansão de cultura que o país oferece. “Como boa brasileira que sou, na primeira semana do vírus não tínhamos noção do que era, então a gente chegava abraçando e beijando todos os funcionários, só que eles já usavam máscaras, a gente não entendia, mas chegamos a fazer shows usando máscaras”, relata Sebrian.


“Assim como rolava memes no Brasil, no nosso grupo isso também acontecia, foi quando recebemos a informação de que o clube fecharia, assim como todos os comércios, por volta da segunda semana do vírus que tivemos dimensão do que estava acontecendo, porque, até então, pensávamos que era uma gripezinha”, diz a bailarina.


Conforme o tempo foi passando, Sebrian ainda expõe que passaram a ter dificuldades na compra de alimentos, já que a cidade tem apenas um mercado grande e não estava aberto. “Só compramos alimentos das vendas que tem no condomínio, onde raramente encontrávamos pães e ovos, mas carne e frango não tinha mais”.


Na Irlanda, país com cerca de 25 mil casos confirmados e mais de 1.600 mortes até maio, o cenário nos supermercados é semelhante. O profissional de marketing, Gabriel Lemos, 25, ressalva que os estabelecimentos ficaram vazios, mas neste momento já estão conseguindo repor os itens que geralmente são os mais procurados nas prateleiras.


“O plano de contingência por aqui foi executado muito rápido deixando todos bem amparados. Não tenho o que reclamar de verdade”, ele comenta. Além do governo local contribuir com um valor mensal para as pessoas que perderam o emprego nas próximas doze semanas, eles também aplicam uma multa de 2.500 euros para quem ultrapassa o limite de 2 km da residência.


Em janeiro deste ano, os EUA confirmaram o primeiro caso da doença no país, até junho era o epicentro do coronavírus no mundo somando quase 2 milhões de casos e mais de 100 mil mortes. A enfermeira Ana Beatriz Marfil, 22, mora há dois anos e meio em Greeley-Colorado e foi para o país pelo programa de intercâmbio Au Pair e optou por continuar no país pela qualidade de vida, segurança e estudos, que considera melhor que do Brasil.


“Como enfermeira eu não tive nenhuma mudança no meu emprego, continuo trabalhando nas mesmas horas e nos mesmos dias, mas no primeiro mês não tínhamos máscaras, luvas ou outros materiais de proteção pessoal”, diz Marfil.


A brasileira sentiu na pele os efeitos do coronavírus, sua cunhada, Erika Garcia, contraiu a doença. “Foi um momento bastante complicado, especialmente por ela estar grávida e precisou ser internada, ficou durante um tempo respirando com auxílio de oxigênio, corria o risco de perder o bebê ou que ele nascesse com 26 semanas, ou seja, ela estava em isolamento hospitalar e não podia receber visitas, caso o bebê nascesse iria ficar longe da família”.


Na mesma época que sua cunhada contraiu a Covid-19, Marfil também teve sintomas da doença. “Não fui fazer o teste por questão de valores porque aqui não temos um sistema de saúde como no Brasil, temos que pagar tudo, tanto de hospital quanto consulta, mesmo com o seguro de saúde fica um valor muito alto”, conta Marfil.


A empresária Vera Gomes mora em Staten Island, distrito de Nova York, e também questiona o sistema de saúde americano. “Pelo menos o Brasil tem médicos para todos e de graça. Aqui não temos isso. Pago 1.600 dólares por mês para meu seguro de saúde e assim mesmo se eu ou meu marido ficarmos doente temos uma conta muito alta. É ridículo pagar esse valor para duas pessoas”, desabafa Gomes.


A empresária conta também que está muito triste com a situação, por ver tantas pessoas morrendo e não poder ajudar, mas se sente orgulhosa de quem trabalha na linha de frente. “Alegria de ver tantas pessoas ajudando como podem. Um orgulho lindo de ver todos os profissionais lutando para salvar vidas, colocando sua própria vida em risco por todos que estão doentes”, reconhece.


No dia 2 de março, Portugal registrou o primeiro caso de coronavírus e até o meio do ano o país soma 31 mil casos confirmados e 1.300 mortes. A dançarina Hérika Vieira, que mora na cidade de Braga com seu marido e filho, não se sente segura com a situação. “Todos os dias ocorrem muitas mortes, mas o governo tomou medidas antecipadas, com estes decretos estamos um pouco mais aliviados”, alega.


Com uma rotina bastante rigorosa estipulada pelo governo local, que declarou estado de emergência, é permitido “apenas passeios curtos próximos à residência, saídas para supermercados, só uma pessoa da família pode sair e a polícia faz rondas na cidade para controlar o fluxo de pessoas”, afirma Vieira. O que resulta em uma flexibilização da quarentena no início de maio.


Exemplos positivos de combate ao vírus


Um exemplo positivo no combate ao coronavírus é na República Tcheca, o país começou a fazer monitoramento desde quando o vírus começou a se espalhar pela Europa. No dia 12 de março, decretaram situação emergencial e os serviços foram fechando de forma gradual, desde as escolas até eventos com uma certa quantidade de pessoas aglomeradas.


Pensando em salvar vidas e deixando de escanteio a economia durante esse período, por diversas vezes enfatizado pelo presidente Miloš Zeman e do primeiro ministro Andrej Babiš. Hoje, o país passou dos nove mil casos, com mais de 300 mortes. Resultado da política de lockdown e conscientização da população tcheca.


A freelancer Helen Pelipecki vive no país com o marido e os filhos. Ela sente que o tratamento que o governo tcheco teve foi muito mais efetivo do que é observado no Brasil. “Desde que o vírus chegou à Europa, a República Tcheca monitora a evolução dos números e começaram a agir no primeiro caso, com medidas que até parecem duras demais, mas são efetivas e a população confia nos governantes”, afirma Pelipecki.


Ela pensa que pelos tchecos terem sofrido com dois governos autoritários na história, nazismo e comunismo, é da personalidade deles ter calma para lidar com momentos difíceis e serem práticos. “Os tchecos são tranquilos e ninguém entrou em pânico, o governo fazia coletivas de imprensa quase todos os dias e informando de todos os passos, o que trouxe paz às pessoas”, afirma a freelancer.


A brasileira e o marido aproveitaram o tempo de quarentena para desacelerar. Apesar de não ter contato com o mundo externo, a parada forçada os fez repensar no que é mais importante. “Valorizamos mais as conexões e descartamos tudo que não era tão importante”, aponta Pelipecki.


Ela também aproveitou para continuar com projetos pessoais com o marido. “Reforçamos os laços familiares. Nós tivemos conversas interessantíssimas sobre cultura e política, que faz parte do nosso trabalho, descartamos o que nada nos acrescenta em nossas vidas, passamos a ter foco e sermos mais gratos pela vida que temos”, diz.


O governo tcheco irá manter o uso obrigatório das máscaras até o final de junho, mas a movimentação pelo país já está liberada por conta do sucesso da quarentena entre março e início de maio.

A embaixada do Brasil na República Tcheca manteve os brasileiros no país informados por meio das redes sociais e informes no site oficial. “Um auxílio emergencial foi oferecido à pessoas que estavam com problemas em seu retorno ao país também, fornecido pelo governo brasileiro, que estava tentando disponibilizar transporte, já que aviões não entravam ou saíam daqui desde que o lockdown de fronteiras foi colocado em ação”, afirma Pelipecki.


O Canadá é outro país que tem tratado cautelosamente o isolamento social. No início de abril o governo decretou lockdown, que foi mantido por semanas, mesmo não tendo registros tão alarmantes como atualmente. O país da América do Norte atingiu a décima terceira posição do ranking mundial do coronavírus no fim de maio, com mais de 86.600 casos confirmados e cerca de 7 mil mortes.


O profissional de TI, Caio Henrique Conz, 29, morador da cidade de Winnipeg, na província de Manitoba, conta que a população tem sido responsável e consciente com as medidas adotadas. Contudo, ele admite que, certamente, haverá dificuldade em manter o confinamento, por algumas razões. “O verão, mais especificamente aqui na nossa província, é muito curto. Então, quando tem dez graus positivos, já é motivo para a galera sair de casa, acampar e às vezes até ir nos lagos que existem aqui perto”, diz ele.


As medidas que têm sido tomadas para diminuição da propagação do novo coronavírus, em Manitoba, têm sido muito eficaz, tal confirmação vem por meio dos registros da província, tendo até o meio do ano 292 casos confirmados e apenas sete mortes. Mas, Conz ainda afirma que manter a população confinada por mais tempo, com o verão batendo na porta, vai ser o maior desafio enfrentado, não só pelo governo, mas também pela própria população.


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