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Cancelamento de Jogos Olímpicos traz incertezas, mas valoriza o lado humano de atletas

Atualizado: 5 de jun. de 2020

Adiamento para 2021 faz o mundo se questionar sobre a realização de evento, enquanto os atletas brilham em outras áreas por um planeta melhor


A pandemia da COVID-19, que surgiu em dezembro, trouxe inúmeros problemas mundiais e o esporte também foi afetado. Com o isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a maior competição esportiva do planeta foi paralisada e os Jogos Olímpicos foram adiados para 2021. Considerando a primeira e a segunda guerras mundiais que forçaram o cancelamento nas décadas de 1910 e 1940, essa é a primeira vez que ocorre um adiamento desde que as Olimpíadas surgiram, em 1896, em Atenas, na Grécia. 

 

Os japoneses estão mais pessimistas sobre a realização de Tóquio 2021. Segundo estudo feito em março pelo professor de economia da Universidade de Kansai, Katsuhiro Miyamoto, o Japão vai ter um prejuízo estimado de 422 bilhões de ienes em custos extras. Os médicos do país acham muito difícil de os jogos aconteçam sem que uma vacina seja desenvolvida. Por outro lado, o COI (Comitê Olímpico Internacional) garante que não há a necessidade de uma vacina e que a Olimpíada deverá acontecer. O chefe de Comissão de Coordenação do COI, John Coates, garante que o planejamento está mantido, seguindo as ordens da OMS.


Já Megan Rapinoe - uma das melhores e mais influentes jogadoras do futebol feminino -, coloca em xeque a realização dos Jogos Olímpicos. "Francamente, acho que as Olimpíadas estão em dúvida para o ano que vem", afirmou Rapinoe ao jornalista da CNN David Axelrod em seu podcast “The Ax Files”, em maio. "Quanto mais penso na parte logística, mais difícil parece a realização. Reunir todo mundo assim, com a ausência de uma vacina e um tratamento certo para a doença, deixa a situação realmente difícil.”


Eleita a melhor jogadora da temporada, além de ser campeã da Copa do Mundo com os Estados Unidos e artilheira do mundial, Megan deixou claro que gostaria da realização do evento, mas que a proliferação do coronavírus é prejudicial para isso: "Certamente queremos poder seguir o caminho que desejado, não sendo atrapalhado pela pandemia", disse. "Se não tiver Olimpíadas, você sabe que não poderemos praticar esportes por vários anos, ou o tempo que for, mas a situação será essa. Mas definitivamente queremos disputar os Jogos de Tóquio", apontou Rapinoe.

O presidente do COI, Thomas Bach e o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus após conferência - Foto: Greg Martin/COI


COB é elogiado por atletas brasileiros

Os atletas que já garantiram sua vaga para Tóquio 2021 permanecerão com suas vagas. No caso dos brasileiros, mais de 178 esportistas já estavam se preparando para os jogos. A lutadora olímpica Laís Nunes, que representa o estilo livre, está entre os atletas garantidos.


Laís já é uma realidade no esporte brasileiro. Tem três medalhas de bronze, prata e ouro nos Jogos Pan-Americanos, além de ter chegado em 2019 ao segundo lugar no ranking geral da categoria. Já disputou os Jogos Olímpicos de 2016 em casa e mesmo perdendo na primeira luta, se tornou a atleta brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada pela Luta Olímpica.


Ao ser questionada, disse que não se arrepende: “As Olimpíadas em 2016 foi uma grande experiência pra mim, porque eu era muito jovem e também não tinha maturidade esportiva e competitiva que eu tenho hoje, e acabei perdendo na primeira luta. Acho que foi uma boa experiencia poder competir a primeira Olimpíada em casa, aos 23 anos, querendo ou não foi de grande valia para mim e eu acho que vai acrescentar muito na próxima Olimpíada”.

Laís no lugar mais alto do pódio, após vencer e conquistar a vaga para os Jogos Olímpicos - Foto: Tony Rotundo


Apesar da mídia especializada a considerar favorita para a medalha de ouro, Laís afirma que não pensa sobre o assunto, mas sim para chegar e fazer o seu melhor: “Eu de certa forma, encaro o favoritismo de forma normal. Sempre tem a pessoa que eles colocam mais expectativas, que acreditam mais, mas eu tento não limitar minha crença somente nisso. Acho que sou muito mais do que sou favorita, trabalho pra fazer o meu melhor, acredito num melhor resultado, em medalha olímpica, sabe? Eu trabalho para chegar e fazer o meu melhor, acreditando sempre no meu esforço e da minha equipe, confiando que tenho capacidade e potencial para alcançar a medalha olímpica.


Nunes também não deixou de fazer elogios ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ao ser perguntada sobre o posicionamento da organização neste momento de pandemia: “O posicionamento tem sido de grande apoio para os atletas porque o COB manteve todas as bolsas, não vai ter cancelamento e as pessoas estão recebendo, e isso é muito bom, porque mantemos a nossa rotina de treinamento em casa.”


Além disso, ela afirma que o COB anda auxiliando os atletas a se exercitarem: “Fora que tem fornecido vários vídeos ajudando os atletas a se alongarem em casa. Mas você receber esse apoio do COB de como soltar seu corpo antes do treinamento, alguns vídeos explicativos tem sido bem legais e só tem a acrescentar na nossa jornada. Então mesmo em casa assim, nós temos o apoio do COB em questão de treinamento, em relação a várias questões que os atletas precisam.”


Laís lutou há menos de três meses para garantir sua vaga nos Jogos Olímpicos e mesmo de quarentena, ela continua a se exercitar para manter o condicionamento físico: “Bom, eu estou treinando em casa, tenho minha preparação física e a minha preparação técnica, estou com os materiais de musculação e com o tapete onde posso fazer meus treinos técnicos também. O meu treinador está em Cuba, mas a gente conversa todos os dias, ele passa todo o treinamento e a cada semana muda o treinamento e eu tenho feito o melhor que eu posso a cada dia.”


A lutadora fez questão de ressaltar o quanto a ansiedade pode atrapalhar e o quão importante é cuidar da mente, mas que enxerga um lado bom na quarentena: “Por outro lado, também tenho trabalhado bastante minha saúde mental, tenho feito muitos cursos de inteligência emocional, tenho feito sessões de coaching com Welison Dantas, que é meu treinador mental para controlar a ansiedade que tenho de voltar a competir, de voltar a lutar e principalmente a participar dos jogos olímpicos. Então o que foi feito para manter meu corpo em movimento e meus treinamentos em dia, tem sido justamente esse controle emocional e trabalho mental que eu tenho feito, pra saber que é um processo e saber tirar o melhor desse processo, então tem tido um lado bom também”.

Para manter a forma, Laís Nunes treina na sacada de casa - Reprodução/Instagram


A ansiedade de quem busca a vaga olímpica

Rudá Franco é um dos atletas que ainda não garantiram vaga e depende do pré-olímpico para isso. O experiente atacante de polo aquático do SESI-SP foi contundente ao afirmar que ele e seus colegas de profissão foram afetados com a pandemia: “O adiamento dos Jogos Olímpicos afetou os atletas fisicamente e psicologicamente. Não tivemos férias, pois quando acabou a Liga Nacional nós iniciamos o trabalho de preparação da Seleção Brasileira que lutaria por uma vaga no Pré-Olímpico, que seria disputado no fim de março. Na parte financeira tenho a sorte de poder contar com todo suporte do meu clube.”


O atacante que disputou os Jogos Olímpicos de 2016, se mantém preparado fisicamente, já que tudo pode mudar a qualquer momento: “Nós ainda estamos esperando a decisão do Governo e da OMS. A ideia é voltar apenas com a liberação das autoridades e de forma gradual, respeitando as restrições. Continuo fazendo em média 3 horas de exercícios por dia, prefiro me manter ativo para não perder tudo que treinei e também para manter a saúde física e mental nesse momento difícil.”


Rudá, fez parte de uma geração que trouxe o polo aquático brasileiro de volta a uma Olimpíada após 32 anos. Aquele time fez história ao chegar em oitavo lugar, batendo a Sérvia - até então campeã mundial e medalhista de ouro em 2016. O atleta fez declarações contra a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) e questionado sobre o assunto e o coronavírus, afirma que perderam uma enorme chance de tornar o esporte famoso por aqui, mas que estão auxiliando os atletas. “Fiz críticas à gestão anterior da CBDA que eles tiveram uma oportunidade de ouro de popularizar e profissionalizar nosso esporte no Brasil. A nova gestão está lutando para reestruturar a confederação, com dívidas das gestões anteriores e sem patrocinadores, é um momento complicado. A CBDA está alinhada com a OMS e fazendo a parte dela nessa pandemia, conscientizando a comunidade aquática e promovendo lives com atletas e técnicos.”

Rudá durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019 - divulgação/Facebook


Aporte financeiro em massa de federações e do COI

Federações estão se movimentando para ajudar os atletas a se manterem com os custos. A Federação Internacional de Tênis anunciou na última segunda-feira (18) um programa de incentivo financeiro a atletas que estão entre a posição 501 a 700 no ranking mundial. O programa terá início em 2 de junho, mas não é só os tenistas que estão recebendo apoio.


Sem dar muitos detalhes, o Comitê Olímpico Internacional anunciou um pacote de R$ 4,6 bilhões de reais para federações internacionais e comitês nacionais, afim de dar suporte a todos os atletas filiados.


Canadá e Nova Zelândia foram alguns dos países que se destacaram para manter a qualidade esportiva. O investimento dos canadenses foi de US$ 51,7 milhões de dólares no esporte amador, enquanto os neozelandeses soltaram um aporte de US$ 157 milhões, divididos em quatro anos.


Esforço físico trocado por esforço humanitário: os atletas na pandemia 

Os atletas que costumam movimentar redes sociais, geram debates acalorados em programas esportivos e notícias, estão em segundo plano agora. Mas o que está sendo visto é um show de empatia e ajuda ao próximo.


Falando sobre quem faz a história de cada Olimpíada, os atletas estão fazendo história mesmo fora da competição. O judoca israelense Sagi Muki que já tem vaga garantida nos jogos e é visto como herói de seu povo, arrecadou mais de R$ 800 mil reais em um leilão de combate ao coronavírus. 


Já o tenista moldavo Dmitrii Baskov, bicampeão da Copa Davis, chegou à Índia em janeiro para visitar uma academia de tênis antes que a pandemia o impedisse de voltar para casa. foi aclamado como “herói indiano” após participar de uma campanha para alimentar os pobres de Ahmedabad, que estão lutando durante o bloqueio do coronavírus.


O Golfe que voltou recentemente aos Jogos Olímpicos, teve seu primeiro torneio beneficente na pandemia de COVID-19. Foram mais de US$ 5 milhões de dólares arrecadados, sendo US$ 1,1 milhão vindo de espectadores. O dinheiro foi para um fundo a fim de combater a doença.


Arthur Raymond não é conhecido do grande púbico que acompanha tênis, mas fez parte do noticiário nos últimos dias. O tenista francês de 21 anos, que está na posição 589 do ranking mundial, reformou ao lado do seu pai, a quadra do vizinho que pratica o mesmo esporte.

O tenista Arthur Raymond e seu pai aproveitam a quarentena e reformam a quadra de tênis do vizinho - Foto: Divulgação


O lado humanitário e as situações inusitadas caminham lado a lado

Nesse momento conturbado, alguns atletas se colocaram à disposição para encarar a doença na linha de frente. Os brasileiros Marcel de Souza, Ben-Hur Sturaro e Nicole Silva tem pouco em comum. Um é ex-ala da Seleção Brasileira de Basquete e um dos ídolos da modalidade no país. O outro, é um atleta do ciclismo de estrada. E a terceira é praticante de skeleton, modalidade olímpica de inverno. Marcel é médico, Sturaro é bombeiro e Nicole é enfermeira. Os dois últimos ainda competem profissionalmente e são esperados nos Jogos Olímpicos de verão de 2021 e nos jogos de inverno em 2022, respectivamente.


A recuperação muscular após a semana de internação é fundamental. E que tal se sua fisioterapeuta for uma ex-saltadora olímpica? Vanessa Boslak que representou a França em quatro edições das Olimpíadas (de Atenas 2004 à Rio 2016), trabalha atualmente em uma clínica de Paris, auxiliando pacientes de COVID-19.

Rio Miyake e Rebecca Adlington com prioridades diferentes, mas com todos os cuidados necessários na quarentena -  Fotos: Reuters e reprodução/Instagram


O Esgrimista japonês Rio Miyake decidiu largar os floretes para virar entregador de comida por aplicativo. O medalhista olímpico em Londres 2012, rejeitou patrocínios por enquanto, e utiliza uma bicicleta para fazer as entregas. Miyake já está classificado para Tóquio 2021, e de acordo com o atleta, isso o ajuda a se manter em forma e preparado.


No ocidente, a nadadora Rebecca Adlington está cumprindo o isolamento social numa situação que pode parecer estranha para outras pessoas. A bicampeã olímpica nos jogos de Pequim 2008, está em casa com o seu ex-marido e o atual namorado, tudo isso para ficar perto de sua filha de 4 anos. Ainda há a presença do nadador jamaicano Michael Gunning, de 26 anos.


Super time de atletas brasileiros uniram forças

Foto: Divulgação


Grandes nomes do esporte brasileiro, agora se unem para fazer história fora de seus campos de batalha em prol da humanidade. Bernardinho (ex-jogador e treinador de Vôlei), Daiane dos Santos (ex-ginasta), Diego Ribas (jogador de futebol), Flávio Canto (ex-judoca), Gabriel Medina (surfista profissional), Gustavo Kuerten (ex-tenista), Hortência (ex-jogadora de basquete), Lars Grael (velejador) e Rodrigo “Minotauro” Nogueira (ex-lutador de MMA) buscam acabar com a fome dos menos favorecidos com o projeto #VENCENDOJUNTOS, que tem como meta inicial arrecadar R$ 10 milhões para doar cestas básicas a 33 mil famílias durante três meses.


Todos eles deixam claro que outros atletas podem participar do projeto. Toda renda será revertida em cestas básicas para as famílias, e as doações são realizadas no site do projeto: www.vencendojuntos.com.br, por meio de cartão de crédito, boleto ou transferência bancária.

Por Arthur Ferrari, Gabriel Pequeno, Gustavo Ardanuy, Kaique Oliveira e Lorenzo Almeida

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